Estamos em 2008 e a previsão feita por Jakob Nielsen 10 anos atrás não se concretizou. Ele disse, na época, que todos os usuários de computador estariam hoje voltados para o visor, desprezando necessariamente a versão impressa de livros, jornais e revistas.
Nielsen errou? Errou. Mas a maioria de nós erraria. Diria o mesmo. O avanço se dá numa velocidade assustadora. Qualquer previsão feita acerca de quebra de paradigmas carrega consigo, portanto, uma margem de erro aceitável.
O que interessa – e faz, sim, todo sentido – é a essência da previsão de Nielsen. O mundo caminha em direção à internet. Enxerga nela a dimensão do futuro e, por isso, transfere para ela hábitos, como o da leitura.
A morte dos atuais formatos de mídia, também prevista por Nielsen, é o que sustenta a polêmica. Será mesmo o fim da chamada mídia tradicional? Uns falam em completa extinção, outros, mais cautelosos, em transformação, reinvenção.
A resposta para essa incógnita não virá agora. Precisaremos de tempo, mais do que o imaginado por Nielsen, para entender o que se passa. A mudança que virá, mais cedo ou mais tarde, exige adaptações técnicas e, sobretudo, culturais.
O que ainda os fazedores das novas mídias não entenderam, ou não conseguiram assimilar, é o fato de que a tal mudança não consiste única e exclusivamente na transposição de conteúdo da plataforma impressa para a virtual.
É preciso, sem dúvida, fazer diferente, reinventar o que é feito hoje. Carregar, claro, ferramentas, estilos e estéticas próprias da realidade com a qual já estamos acostumados. Mas quando se fala em novas mídias, elas de fato são novas.
Talvez por isso o tempo estimado por Nielsen não tenha sido o correto. A mudança de hábitos só acontecerá quando os receptores das novas mídias estiverem seguros de que vale a pena abandonar as mídias atuais. O que ainda não ocorre.
Nielsen arriscou também, em 1998, traçar um futuro glorioso para os protagonistas das novas mídias. Previu uma maneira mais egocêntrica de produção, conferindo menos peso às empresas – uma espécie de “cada um por si”.
Quanto a esse ponto, mesmo sem estipular prazo para tanto, Nielsen parece ter acertado em cheio. O boom de blogs, onde cada um faz o que quer e como quer, é prova disso. No mais, o próprio tempo nos apontará as proporções dos erros e acertos de Nielsen.
Diego Amorim